Cartas de Bruxelas
Cartas de Bruxelas
Sobre o Livro
Sumário
Sample.
Processo.
São 8:30 da manhã. Corro pela Auderghem fora, os sapatos a estrear, a seda azul a reluzir. Acerto os pormenores inseguros do nó da gravata. Não há aspecto algum a descurar quando se caminha para um desconhecido tão apetecível, transmitido meses antes na salgalhada do spam que traz pela manhã as últimas novidades sobre asiáticas solitárias, russas casadoiras, cursos universitários à borla nos EUA e créditos bancários com juros milagrosos. Tudo misturado como uma salada de frutas azeda, com uma semana de frigorífico, tudo seleccionado para ser deletado...Alto! Quem é ele? O que fazem os meus dados ali escarrapachados? Quem é este Mr. Zahony? Dia 1, primeiro da oficialidade da segunda escolha. Antes...
Tinha a agência à perna. Um dia a vender perfumes, cerveja num outro. Vestia uma camisola diferente sem para ela ter tempo de aprender a amar a sua fibra. Virava vendedor a vendido do que vendia numa fracção de segundos, sem me descontarem a gratidão pelos ganhos do dia. Os três botões do volante de um carro desportivo que rodam consoante a necessidade de uma sensação mais fresca e perturbadora aos sentidos, ou aquela busca irreflectida pelo ponto de resistência e quebra, da carne aliada à explosão eléctrica do neurónio. Aqui não há desafio face ao quotidiano, apenas a espera pela nova mensagem da caixa de entrada do email que leva ao dinheiro fácil, à hora, ganho no esgano de um filtro saturado do ar condicionado que cospe cotão preto e pegajoso. Lojas, cubículos de ilusões, de construção e destruição de quimeras perdidas para a resignação. Execrável queda do sonho. Multifacetado e low-cost, dizem-no de mim e digo-o a mim próprio, enquanto arranjo palavras para compreender e fazer compreender o anarquismo do optimismo quanto ao que virá. A realidade transforma-se num suspenso jogo de probabilidades aprendido em aulas de matemática passadas. A esperança nela pode ser vã, e ar e vento nunca me encherão de fartura, um novo sentir tomará corpo em inglês, francês, alemão ou quem sabe em flamengo. Era o final de um “L'Aubergue Espagnole”, o nervoso miudinho da confusão entre ficar e partir, ou esperar e procurar falado em “fachadês”. Deixo para trás a colecção de LP's e a sua arte delicada (quase) perdida de escutar albúns de fio a pavio, e tal como o som áspero da agulha a resvalar para o fim do Lado B, engulo em seco e parto.
Esta ideia de Europa, de Marco Aurélio, Carlos Magno, Napoleão, Churchill, Schuman, Delors, Steiner, invadiu-me ainda no tempo das manias de menino grande com medo das consequências da adolescência. Entrava olhos dentro a solenidade da integridade, de um certo sentido de auto-respeito apenas alcançável por homens de barba feita. Chegado lá, depois de saltos (mal e bem) dados de carruagem em carruagem, perfurado pela rebeldia, estupidez, desencanto e absoluta delícia consumada com histórias de amizades e paixões assolapadas e, por algumas (muitas) vezes, incuráveis, quinze anos depois, dou de caras com Justus Lipsius. Chamam-lhe “edifício de guerra”. Um Pentágono europeu. Pedra e lajes, um estilo pesado que pisa quem quer que o afronte. Não é por menos, nele ainda estão buracos de bala, o urânio entranhado no solo dos Balcãs, a sombra do pacto de guerra do clã Bush com certidão passada e assinada por Blair, Aznar e Barroso.
O eco de um tacão no longo hall de entrada – escritório e sala de espera criativa para centenas de ouvidos, bocas e mãos afoitas nas longas sessões de Conselhos Europeus - não esconde o silêncio ditado pela chegada a um ambiente restrito, ladeado por fardas militares, consultores atrasados para as sessões matinais de xadrez em que todos tomam parte, alguns inconscientemente. Pensando, prevendo, especulando sobre a movimentação seguinte a que se assistirá no tabuleiro. Peões e cavalos que se dispõem num espírito de cruzada pro-europeísta, efeitos colaterais da negociação diagonal dos seus bispos, absorvidos por torres “porta-vozes”, que repetem a gravação formal ditada para as horas marcadas de apregoação abusiva “dos mais altos valores de liberdade e democracia”. Demo-carecida com os passos livres (in)suspeitos das rainhas e reis, consagrados pela imunidade desobediente ao clima de transparência defendido nas unidades de comunicação, que se tenta fazer impôr em nome d'A Missão para com 500 milhões, não tão convencidos deste facto (é o que leva a crer o desinteresse revelado pelo último processo eleitoral de Maio de 2014).
A verticalidade hierárquica, a atracção pelo secretismo da estratégia de impulsos figura em mestres de cerimónia, negociados e empossados pela elite partidária da qual se compõe os grupos parlamentares europeus, raramente unânimes enquanto conceito político agregador e unificador, e pelo conselho semanal de representantes permanentes na União – COREPER – cujas deliberações estão estreitamente coordenadas com a Alma Mater além-Atlântico. Von Rompuy, esguio, expressão enigmática, passo amestrado, discurso na ponta da língua mas sem cálculo diplomático na hora de enfrentar o corpo jornalístico. Pede-nos para nos afastarmos para o lado e lhe abrirmos alas com um gesto altivo, tomando parte central na fotografia com este grupo de “entusiásticos e talentosos” estagiários para a qual confere alguns minutos. Após o clique, entoa um “boa sorte”, tão vazio quanto o seu olhar. Foi a sua desinspirada despedida, ele, o primeiro Presidente do Conselho Europeu. Sucede-lhe Donald Tusk, um esforçado aprendiz de línguas, ex-primeiro-ministro da Polónia, a menina dos olhos de ouro do sebastiânico milagre económico. Na sua tomada de posse avistei nele uma reacção natural e, quase se pode afirmar, autêntica, excepcionalmente vista numa figura que encabeça toda a conjugação de poderes na União Europeia. Tomou a palavra após o discurso do seu precedente, com o suor presente na testa, esfregando vagarosa e repetidamente as mãos nas calças escondidas atrás do palanque, tentando acertar o ritmo do seu pensamento à medida que o conforto e confiança se encontram com um inglês ainda arranhado, almejante de melhores dias. Palavras escritas que gerarão consequências. A História como consequência. Os gritos neo- wallacianos dos clãs escoceses. Os arrepios na coluna vertebral política sentidos em pleno Verão, lembrando velhos resfriados siberianos. E a não conformidade, admirável, face ao perpétuo e dúbio arrastamento da tragédia grega. Destemida, a História dos povos, de volta à Casa-Mãe.
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